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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Arthur Martins Cecim lança romance amazônico em Belém

PRESS 17 de novembro de 2011





O escritor paraense Arthur Martins Cecim, vencedor do Prêmio Nacional Sesc de Romance 2010, faz hoje o lançamento, aberto ao público, do seu livro premiado “Habeas asas, Sertão de céu!”, a partir das 18 horas, na Fox Vídeo (Rua Dr. Moraes, 584, Batista Campos). Arthur tem autografado seu romance em várias cidades brasileiras, desde que foi lançado pela editora Record nas livrarias de todo o Brasil, a partir do lançamento oficial no Rio de Janeiro, com noite de autógrafos na Academia Brasileira de Letras. Agora, chegou a vez da terra onde nasceu.

De uma família de escritores, ele não esquece de citar suas origens literárias, sua avó Yara Cecim e o pai Vicente Franz Cecim:

- Foi minha vó Yara quem me ensinou o sagrado das coisas naturais, contava estórias, eu aprendi a narrar através dela, ela me contava estórias daqui como se fossem estórias épicas, lendas que eram teogonias. Minha vó vem de uma região, o Caxambu, onde homem e natureza são um só. Meu pai Vicente me ensinou as imagens oníricas, que me tornaram mais clara a indiferença entre céu e terra, sonho e realidade. Tem alguém a mais que lembrar: minha bisavó, Honorina Bastos, mãe de minha avó Yara, era uma poetisa transcendente.

O romance de Arthur tem pássaros como personagens, mas durante a narrativa o leitor os sente como seres humanos. A história é apresentada do ponto de vista do céu, habitat dos personagens, e Arthur Cecim, inovando na linguagem segundo Alice Ruiz, membro do júri que premiou o livro, "se alimentou das dicções mais inovadoras, como a de Guimarães Rosa, Haroldo de Campos, Paulo Leminski, Mia Couto e da poesia de Manoel de Barros".

Arthur Cecim nos fala sobre literatura e seu livro:

- Você é um dos poucos escritores paraenses que já lançam seu primeiro livro por uma grande editora nacional e que poderá ser lido por leitores de todo o Brasil. Qual o significado disso?

- É preciso que façamos uma literatura mais avançada, a literatura regional está esgotada, ressequida, sua fórmula, que é uma fórmula, não é uma forma de literatura autêntica. Os escritores de nossa região devem tentar outras formas de expressão, temos em nossa região todos os elementos para fazer uma literatura mais avançada: devemos tratar e fazer literatura como “transregião”, indo além do visível, literatura de forte imaginação, criadora de novos mundos. A literatura regionalista resseca as possibilidades porque estanca no particular, toma o particular como particular. Devemos dar asas universais ao particular, transregionalizá-lo. Fazer uma migração invisível dentro do próprio visível. Meu recado aos outros escritores é: sonhem, pois a região em si já é onírica.

- Do que trata o seu livro?

- É uma fábula, uma parábola, na qual elementos sagrados e profanos, mundanos e supramundanos co-existem como um só, vistos no mesmo espelho da alma, o livro é uma busca pela bem-aventurança na terra. Ele fala de um sertão da alma, que habita em todos nós, todos os seres do universo. Somos filhos do universo, não é? Então temos esta nostalgia eterna. No livro não há diferença entre o natural e o sobrenatural, o sobrenatural é somente um sobre o natural.

- E depois do sucesso deste, quando sairá o próximo?

- Já tenho um pronto: “Homem: Pássaro: ó Deus”, e amigos torcendo comigo para que saia em breve.

Um desses amigos é o escritor gaúcho Carlos Nejar, que após ler os originais escreveu para Arthur: “Não te chamarei pelo teu nome e sim: Querido Companheiro do Vento: Conheço de vento há muito, de nascença e me comoveste . Criaste um livro cosmogônico - o K da semente de teu pai frutificou , invisível. Teus personagens - Pandeú, Maria dos Comeres, Juta Rubro e outros, inominados povoam este mundo que é desconcertante, por ser virgem. Com imagens belíssimas, achados verbais. Sim, o vento é participante de tudo e "as pessoas são também pássaros lá fora". Ou a Corsária – coruja (que beleza!). Ou falanteio! "Todo o escuro guarda algo de coisa nova. É um viveiro". Mundo da pré-criação: "A noite era reproduzida, a partir do ovo. Mas o ovo seria um símbolo. Pois o ser-estar-porvir era a coisa real, coisa da criação, a noite dentro da Noite." Maravilhoso! E é ao mesmo tempo apocalíptico. Os diálogos iniciais e os finais são fascinantes. "O céu quase parecia inalcançável." Agora só te falta o céu na mão. O livro é pequeno mas maduro como uma romã . É uma romã, com esferas por dentro. Com o carinhoso abraço do também teu irmão, Carlos Nejar.”