NOSSA irREALIDADE SÓ SE TORNARÁ REAL QUANDO
O NOSSO IMAGINÁRIO A RECRIAR, A NOSSO FAVOR
Vicente Franz Cecim
Kafka: Eu era uma ponte |
Comunidade Perdida, Comunidade
Recuperada. Poderia, também, ser o título: evoca os paraísos de Milton: o
Paraíso Perdido e o Paraíso Recuperado, para dizer: – Ando lendo,
interpenetrando, Bauman <> Agamben, ambos tentando atravessar a Dispersão
atual da espécie humana em demanda de um Centro de compreensão do que se passa
agora no mundo, que, achado, permitiria um Ponto de Ações convergentes – aliás,
Ponto já achado, no Sempre, onipresentemente no Ocidente por Eckhart e
oniausentemente no Oriente pelo Tao. Bauman lendo no Visível, logo no Tempo
Histórico, as gotas dispersas da Comunidade líquida atual, e se perguntando com
contida angústia insegura algo que em palavras aqui minhas, significa: -
Acharemos um Ímã? Ele lê no Ente, é claro. Agamben, com mais que confiança: Fé,
lendo no, ainda, segundo ele, Invisível, e antes entrevisto por Benjamin, Tempo
Messiânico, os fundamentos submersos de uma Ilha ontológica que resiste à
dispersão, e recomendando, como estratégia de sobrevivência individual e
auxílio valioso que cada um pode dar à recuperação da Comunidade humana
extraviada, o que em palavras minhas há muitos anos já venho chamando nos
livros de Andara: - viver sem viver Viver. Ele lê no Ser, é claro. Eu vejo a
confusão humana na Terra como coisa Grave - Sim, porque sua força de gravidade
atrai para o mais baixo com poder de autoextermínio capaz de varrer nós todos
da superfície da Esfera Azul, sem que as levezas perdidas nos sustentem entre o
Denso e o Sutil e que um só Justo, já nascido e fenecido ou por ainda por
florescer, volte a tempo ou chegue, e Ascenda em suas Asas que nós, em nós,
atrofiamos mutilando a Promessa de Leveza contida em nossas omoplatas que as
aves realizaram. Mas também vejo que algo quer brotar, e espantosamente,
atravessando a resistência e Espessura da Tecnologia, na nossa Onipresença
Virtual – e nos Olhos do Hubble que vê sem olhar, as Presenças ocultas no Cosmos,
percebendo e decifrando energias em cores. E entendo que para isso, nos dois
casos, da presença virtual e da visão sem olhos, foram nos preparando ao longo
dos séculos os Contos de Fadas, nos ensinando a Vida como coisa mais
subterraneamente Real quando vivida como - Faz de Conta. Ora, é esse faz de
conta quando praticado no Tempo Histórico, rigoroso Tempo do Ente e suas
carências: Tempo do Corpo, que Bauman denuncia como mortal para nós. E é a esse
faz de conta maligno que Agamben contrapõe o Façamos de Conta, Agora, para
favorecer, com nossas praticas de vida, o heraclitiano advir Tempo Messiânico.
Estamos, pois, entre o: - Tudo está consumado. E o: - Tudo está por se
consumar. Para que Tudo não se consuma. O momento, então, é Grave, eu sei. Como
sei o poder de realidade possível – chamem Utopia, como passos em um Caminho,
indo para – do Faz de Conta que moveu Guevara, pelo sangue, na via utópica da
Guerrilha, e Gandhi, pela mente, no via mística indiana do Ato de Vontade, que
a ignorância ocidental só lhe permite entender como não violência, resistência
pacífica. Mas sei que a palavra final será dada não por nós. Que quem a dará,
em Silêncio universal, é: o Ponto. Querem saber como eu cheguei, faz tempo,
lançado entre o Visível e Invisível ao nascer e após ter renascido em Andara,
ao: – viver sem viver Viver? Assim. Tendo entendido – bobagem, devo dizer:
Tendo Visto – que o Real nos aparece como realidades, vi a dispersão. E tendo
visto que as realidades não são o Real em Si, vi o Ímã = o Ponto. O Centro. O
Eixo. Deus? São nomes, dados pelos homens, para o Inominável, chamem como cada
cultura quiser. Mas sintam em vocês o Chamado imanente. Oh, também
transcendente. Toda Criança sabe resistir à deformação adulta dos Pais
empregando o Faz de Conta, que lhe permite resistir na Infância a essas
deformações tantas vezes bem intencionadas mas deformadas pelo Medo da espécie
a não sobrevivência individual que o é sentido secreto do Filho. Somos filhos
de uma Civilização que tende, claramente no Ocidente, para o túmulo que vem
cavando para si mesma. Como resistirmos a ela? Às Crianças que ainda somos, se
as despertarmos do nosso Sono de civilizados adult/erados, é isso o que Agamben
nos recomenda, ostensivamente, em um dos seus livros mais recentes, sobre a
Amizade e a Comunidade. E eu digo assim: - Façamos de Conta que estamos
realmente vivendo todas as irrealidades, bebendo todos os Venenos, sonhando
todas as ilusões, crendo em todas as falsas promessas que nos cercam,
encarceram e sobretudo desviam da Via: da Vida Autêntica que nos caberia
buscar, e buscando, achar quem sabe e Realizar plenamente, o que só saberemos
se nos pusermos a caminho, em nós - em cada um e por todos nós. Segundo ele, é
essencial, indispensável e cada minuto perdido pode ser a véspera do último,
nos Fingirmos de Tolos, ou de Mortos - fingirmos que estamos ouvindo e vamos obedecer
o que os Pais Perversos nos mandam fazer, ó crianças mal tratadas que vivem
nesta Casa/mundo agora vagando por corredores escuros, tropeçando em mentiras,
se erguendo para cair em novas mentiras. E é essencial nos fingirmos de inexistentes, de já mortos para o que nos deforma, por que? Para que?
Porque quanto menos reais para as irrealidades contemporâneas formos, mais
reais seremos para nos libertarmos em direção a uma Real Comunidade Humana. E
para que o Tempo Messiânico - tempo em que, já sem leis que o determinem por
fora, venha a existir uma só Lei interior, que em cada um será igual em todos -
possa Vir a Nós. Isso é quase um exigência de merecimento, ou Graça. E para
atender essa exigência, teremos que nos mover para a Graça e o Sagrado - com
graça, graciosamente, lúdicos - não como entes em Fuga, mas como seres em
Festa. É a mesma Palavra que nos autoriza agir assim e quer: Graça, graça. Da
minha parte, passo a vocês todo o significado, a necessidade e a urgência do
que vi, e entendi, se quiserem, como: - viver sem viver Viver. Achando que,
porque nele se realiza o Ponto, já contém a resposta buscada pela Angústia
histórica imanente de Bauman e a Fé utópica transcendente de Agamben. Eis: confirmado na Táboa de Esmeranda, de Hermes Trimegisto, três vezes mestre. Hermes nos confia o
que Viu, e entendeu: - Que o Infinito é Real e que o Finito é irReal. – Mas
que, vivendo no efêmero transeunte das realidades finitas, nós devemos viver o
Finito como uma Realidade. Quando eu li isso, me disse: - - Uma ação mágica: viver o IrReal como se Fosse uma Realidade. Entendam: o que
Hermes Trimegisto e o Saber Hermético há não sei quantos mil anos nos
recomendam é: - Façam de Contas, aqui. Vivam: Lá. Essa é a Vida Real que cabe
ao homem no Universo. Foi assim, na vida prática, que Guevara fingiu que era um
guerrilheiro, não um médico, e destruiu a Ditadura de Batista em Cuba. Com
muitos ais. E foi assim que Gandhi, sentado, imóvel, Não estou fazendo nada,
meus Lordes, fingiu que não estava Agindo e expulsou o Colonialismo do Império
Britânico da Índia. Sem um ai. Mas, Vicente: - Faz de contas? E a Fome que
devora o faminto, a Somália. E a Morte, que lateja em seu sono mortal nas dez
mil Bombas Atômicas que continuam armadas de um lado e do outro da agora
dissimulada Cortina de Ferro? Eu sei. Por isso tudo neste momento da Comunidade
humana é Grave, muito grave. A isso eu respondo assim: - A
Terra, já se sabe, não é o centro físico do Universo. Embora eu esteja perdidamente
apaixonado por Ela desde que tive esta Visão faz uns dias: - Me vi, com uma
grande Sede, pairando entre as galáxias, estrelas, matéria escura, buracos
negros, cometas, meteoros, luas mortas: tudo ardendo em chamas demais, ou pedras
frias, secas – e morrendo aos poucos de sede, como se diz, eu não achava Água
em nenhum lugar do Universo. Foi quando percebi um pontinho azul, longe, mínimo
– e um frescor arrebatou e me lancei na sua direção - e a Terra me deu de beber
e me salvou e me guardou em Si – e encantado, me dei conta de que Ela é o Único
lugar do Cosmos que tem Água: Nascente da Vida. Agora, mesmo perdidamente
apaixonado, para sempre, ainda me
disponho a aceitar que a Terra não seja o centro físico do Universo. No entanto,
quem sabe o humano seja, em potência, seu Centro Mental no tempoespaço? Pelo
menos um homem que existindo talvez na liberdade do Faz de Conta das Lendas, e
por isso pode ser para nós, que mal damos conta do que somos, Três Homens em
Um, Hermes Trimegisto, soube o seu Lugar. E, luminoso, quando perguntaram
magoadamente a ele se não era uma maldade infinita que não haja realidade no
Finito, respondeu: - Não. Se o Finito fosse real, isso é que seria Maldade,
porque estaria condenado ao Efêmero – fixo, preso, imóvel – não poderia vir a
ser Real. Entendo essas palavras como o anúncio da nossa – Liberdade para nos
Realizarmos.
viver sem viver Viver
Se faça de Ente para vir a Ser
PósEscrito
Vejam claramente isto: não estou dizendo que devemos nos reduzir, ainda mais, à Passividade como submissão – estou dizendo que, já cercados por todos os lados por uma Civilização Brutalmente Indiferente tanto a Dor quanto a Alegria – usemos contra ela a mesma possibilidade de Mutações na existência humana manifesta que está sendo usada contra nós. Mas ao contrário: a nosso favor. Então, fique claro: viver sem viver Viver não é se omitir, consentido. Ao contrário. É uma Ação Inativa – uma Recusa, um – Eu me recuso a continuar vivendo no mundo que vocês me impõem, senhores do bem e do mal. Do ponto de vista de Pirro de Eléia e dos Céticos, filósofos da recusa das Farsas, Aparência e Ilusões – é praticar a Indiferença como libertação. E a trans-figuração da Amazônia – corrompida pelo Colonialismo das Caravelas e agora corroída pelo Imperialismo do Capital – em Andara, a convertendo em uma região verbal metáfora da vida, é a minha prática desse Dom de Mutações libertárias através da Literatura. O: viver sem viver Viver, como reinvenção da existência, se manifesta em Andara desde seu primeiro livro visível, A asa e a serpente, então, desde 1979, tempo em que as vozes de Bauman, Agamben ainda não eram ouvidas por aqui. E ouvir suas vozes recentemente, só me confirmou: viver sem viver, Viver. E foi o fundamento oculto que permitiria a Ação proposta por mim, em 1983, no Manifesto Curau/Flagrados em delito contra a noite, com esta formulação, aplicado a Amazônia : Nossa História só terá realidade quando o nosso Imaginário a refizer a nosso favor. Formulação que após o Segundo Manifesto Curau, ou não: No Coração da Luz, de 2003, agora se amplia para o mundo, assim:
Vejam claramente isto: não estou dizendo que devemos nos reduzir, ainda mais, à Passividade como submissão – estou dizendo que, já cercados por todos os lados por uma Civilização Brutalmente Indiferente tanto a Dor quanto a Alegria – usemos contra ela a mesma possibilidade de Mutações na existência humana manifesta que está sendo usada contra nós. Mas ao contrário: a nosso favor. Então, fique claro: viver sem viver Viver não é se omitir, consentido. Ao contrário. É uma Ação Inativa – uma Recusa, um – Eu me recuso a continuar vivendo no mundo que vocês me impõem, senhores do bem e do mal. Do ponto de vista de Pirro de Eléia e dos Céticos, filósofos da recusa das Farsas, Aparência e Ilusões – é praticar a Indiferença como libertação. E a trans-figuração da Amazônia – corrompida pelo Colonialismo das Caravelas e agora corroída pelo Imperialismo do Capital – em Andara, a convertendo em uma região verbal metáfora da vida, é a minha prática desse Dom de Mutações libertárias através da Literatura. O: viver sem viver Viver, como reinvenção da existência, se manifesta em Andara desde seu primeiro livro visível, A asa e a serpente, então, desde 1979, tempo em que as vozes de Bauman, Agamben ainda não eram ouvidas por aqui. E ouvir suas vozes recentemente, só me confirmou: viver sem viver, Viver. E foi o fundamento oculto que permitiria a Ação proposta por mim, em 1983, no Manifesto Curau/Flagrados em delito contra a noite, com esta formulação, aplicado a Amazônia : Nossa História só terá realidade quando o nosso Imaginário a refizer a nosso favor. Formulação que após o Segundo Manifesto Curau, ou não: No Coração da Luz, de 2003, agora se amplia para o mundo, assim:
Nossa irRealidade só
se tornará Real quando o nosso Imaginário a recriar, a nosso favor.
pós PósEscrito
viver sem viver, Viver: Ninguém está entendendo, nada, que pena. Vou falar então
como falo com meu neto Rafael de 3 anos: - O Imperialismo Luterano Ocidental -
leiam Max Weber, sobre a origem luterana do Capitalismo - transformou este lado
da Terra em uma prisão de onde foi expulsa a Vida Autêntica. Dentro da prisão,
já não se Vive. Por isso, proponho: - Para escapar à Alienação desse viver sem
viver que nos é imposto é preciso passar a viver sem viver Conscientemente disso
- se recusando a esse Cárcere onde estamos adormecidos - e isso é uma Estratégia
de reDespertar, de guerrilha psicourbana, entendam, a ser praticada no nosso dia
a dia, em cada pensamento nosso, palavra, gesto, opção. Até que o Carcereiro,
olhando de fora das grades, veja só uma cela vazia, e não havendo mais ninguém
para vigiar, pois nos tornamos novamente homens, em nós mesmos, Livres e perdeu
o sentido a sua existência - se retire - para o Inferno - deixando a porta agora
inútil da sua jaula agora inútil aberta. Porta que então atravessaremos,
reconvertendo o nosso viver sem viver voluntário, estatégico, em um retorno à
Vida Autêntica, do lado de fora. Esse é o: viver sem viver - para reViver.
Confesso que seria mais veloz, e Digno, se os livros de História pudessem contar
aos filhos dos filhos dos nossos filhos que tivemos a Coragem de arrancar a
dentadas as grades. Mas onde um dia esperei dentes, que pena, só vejo agora
sorrisos submissos. Amarelos. Humilhados. Mas contentes. Ler Morte a Crédito, de
Céline, pode favorecer o nascimento de dentes. Mas eles só crescerão naqueles
que verdadeiramente entenderem, e praticarem, o elogio do Poder do Imaginário
contido nesta frase de Breton: - Do fundo de um cárcere, basta um homem fechar os olhos para destruir o
mundo.
aVe, Vicente Franz Cecim
aVe, Vicente Franz Cecim
o aquário pode ter mais peixes? lindo!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLúcia,
ResponderExcluirsim,o aquário pode ter mais peixes, mas mais paixes levaria a mais ambição dos pescadores. Eu alimento eles - dou um clic com o mouse em qualquer ponto do aquário e surge o alimento na água, ali - velozmente eles correm para lá, sempre famintos, e devoram tudo. Se puderes também fazer isso com teu mouse, me ajuda. Mesmo peixes digitais precisam de compaixão digital ante a fome digital, não é?
Carinhos,
aVe
Vicente Franz Cecim