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sábado, 5 de dezembro de 2015

SIM Vicente Cecim DIÁLOGO COM A NATUREZA












E a fome real

é só a sombra

da grande fome em nós

De ANDARA




             Primeiro, é preciso esclarecer que a Fábula que será contada aqui é um fragmento de um livro de Andara. E sugerir que ela seja lida como uma reflexão sobre Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em que os homens mais uma vez se reuniram para decidir, ou simular decidir, o destino da Terra – mas se o mundo dos homens vai esperar por suas decisões, a Natureza, não. Esperaremos até que a Terra, devastada, como no poema de Eliot, fique novamente Silenciosa como o Paraíso após o Rumor das sombras humanas, para nos contar outra vez fábulas libertadoras? Eu, não. Uso o meu Direito de Sonhar de olhos abertos uma denúncia verbal – diz-se disso: Literatura – dos nossos crimes contra a Vida. Na fábula a seguir dois momentos são essenciais para reflexões: um deles é quando Azael das mãos negras cega Iziel das mãos brancas, o outro é a Visão da árvore morta/viva, morta- viva pela qual eles passam.


De Silencioso como o Paraíso/Vicente Franz Cecim

 

Este é o começo de uma fábula que avançará
por entre grandes fendas e períodos de silêncio como só
se ouve na ausência humana, a floresta às vezes contorcida,
contorcida o silêncio às vezes rompido não por
essas vozes tão baixas essas vozes, murmuradas: e sim
por gritos que vêm de longe na noite, ou é bem perto
É mesmo em nós

As mãos de Iziel muito branca se movem
As mãos escuras de Azel estão quietas

Foi na véspera.
Olhavam a floresta em volta deles e não viam nada:
as coisas, todas elas na noite intimamente. Haviam olhado
o céu, e Iziel então disse:
- Grave bem aquelas estrelas, Azael, apontava, porque
amanhã nós vamos segui-las, mesmo sob a luz do sol
A constelação. Ela estava ali, por cima deles. E onde
mais: dentro deles? E podia? Todo aquele fogo dentro
daqueles homenzinhos? Talvez em Iziel houvesse
Que já dizia, esse Iziel, e Azael olhava o céu, Vê
como as estrelas formam um caminho que parece ir lá
em cima como umas pedras na água, nessa água à noite
para os nossos olhos, mas, seguindo-as, vê como voltam
ao mesmo lugar, este, de onde não partimos, de onde
não partiremos nunca? Mesmo que amanhã acordando
bem cedo e saindo daqui
Azael apenas grunhiu, mais animal que Iziel ouviu isso

De manhãzinha, indo

Mas já a voz de Azel então vindo, diz:
- Foi porque ele me olhou com aqueles olhos que
fiz aquilo, tirar os olhos dele
- Foi porque me olhou com toda aquela inocência
que fiz aquilo, mal partimos, na manhã, tirar os olhos
que ele tinha

Então terá sido isso o que aconteceu? Iziel cego por
Azael mal haviam saído da manhã, mal havíamos começado
a contar a história de Iziel e sua busca do sabor
que se diz a luz do sol põe em tudo nesta terra

      E se não houvesse sido assim? Se, vindo a luz,
nEla fossem? A tentada alegria
Então digamos que aí vão Iziel e Azael, um na frente e o outro atrás,
como palavras uma após as outras, como quando se
conta uma história, as palavras ainda tentando nos dizer
alguma coisa, indo
Seguirão também, elas, uma constelação invisível
debaixo do sol, como seguissem Iziel e Azael

      E andaram, e andaram, e andaram

      E viram uma árvore inteiramente seca, seus galhos,
coisa morta. Da madeira na perna de Iziel veio um
gemidozinho. A memória. Seguiram

      E tendo andado mais, vejam como é Andara, foi
inteiramente diferente o que viram: uma outra árvore,
esta, viva, e tão belo aquilo
      De cegar um homem, mas Iziel ainda tinha os seus
olhos até aí aparecendo assim, aquilo era então enfim a estonteante?
A que nos nutre em um sonho, o sabor, a vida, toda ela ali se
revelando para eles? O que Iziel buscava? A árvore Àrvores?
Uma outra loucura, diferente da humana
      Suas cores
      - O encanto, o encanto, estaria murmurando a madeira em Iziel

E de repente, viram: uns frutos que se mexiam nessa
árvore, umas folhas aladas. E eram aves, muitas, os frutos,
essas folhas pousadas naquela árvore. E logo elas
voaram para longe, as aves, fugindo desses homens que
chegavam, que vinham, Iziel e Azael.

E agora isto que está acontecendo, o que é? Pois
tendo voado as aves para longe, deixando a árvore, o
que aparecia diante deles naquele lugar era novamente
a árvore morta, a que haviam visto antes e ficara para trás

E depois, às vezes voltando passado o espanto de
verem Iziel e Azael, de novo pousando na árvore, e a
árvore já era outra vez para os olhos dele a árvore
Árvore. Toda aquela árvore breve alucinante retornando.
Bela como uma outra loucura diferente da humana.

Iziel e Azael então entendiam: aquela era sim ainda
a primeira árvore, a que haviam visto antes, a morta.
Havia uma só árvore, a mesma. Uma só


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